Leia que não dá trabalho!
“Há quem diga ou, pelo menos, quem justifique a nossa falta de produtividade como sendo um resquício da escravatura. Parece que se trata de um legado de um passado muito doloroso. Daí a nossa "antipatia" pelo trabalho. Daí, também, que aceitemos mais facilmente a palavra emprego.
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Há quem diga que só há uma região no país onde o trabalho tem valor positivo: o Minho. Aí, é entendido que o trabalho dignifica o homem. No restante território, o trabalho é entendido como algo que só faz quem não sabe fazer mais nada ou que o trabalho é para o preto.
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E há quem diga que (e isto são constatações sociológicas) que o sul, católico, se caracteriza por ser dependente, enquanto que os países do norte da europa, protestantes, são autónomos e criativos. Diz-se, também, que o sul abraçou fascismos e partidos comunistas fortes, ao passo que a norte, o capitalismo permitiu uma relação diferente com o valor do trabalho.
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Obviamente que todos estes factores estão aqui apresentados de forma ligeira, abreviada. Mas não deixa de ser interessante pensar que com Lutero (reforma protestante) houve a necessidade de cada um, individualmente, ser capaz de ler a Bíblia para poder interpretá-la sozinho.
Assim, esses países tiveram "campanhas de alfabetização" no séc. XVI, enquanto que as nossas começaram há 30 anos! E tudo porque os protestantes entendem que a relação com Deus é individual e não precisa de intermediário. Já os católicos precisam da figura do padre para que lhes explique o que está escrito nos textos sagrados.
E foi talvez desta diferença que parece pequenina, (ser capaz de ler a Bíblia sozinho e precisar do padre para a entender) que se evoluiu de forma dependente(católica) e de forma autónoma(protestante). É claro que isto não explica tudo. Mas se calhar não conseguimos explicar a aversão ao trabalho sem entendermos o que está na sua génese.
Querem comentar?”
Texto de Al na'ir