Crónica Cidadania Activa 9
Aproveitar o potencial de
informação, conhecimento e experiência
Num país como Portugal, em grave
recessão demográfica e preocupante envelhecimento populacional, seria útil,
importante e inteligente ter políticas públicas nacionais, regionais e locais
que promovessem o aproveitamento do enorme potencial de informação, conhecimento
e experiência dos mais velhos, estando eles no activo ou já aposentados, mas ainda
com vontade e capacidade para participarem nos processos e projectos de
cidadania e desenvolvimento.
No entanto, o que um recente
estudo promovido pela Animar veio revelar e evidenciar foi a inexistência
dessas políticas públicas e de estratégias, quer a nível nacional quer regional
e local, para o envelhecimento activo, interrompendo-se assim, entre outras
coisas, a passagem intergerações de saberes fundamentais. Na administração
pública nacional, regional e local, esta situação é tão ou mais preocupante por
se ter deixado de “fazer escola”, quando organismos com um saber acumulado
enorme perdem, por reforma ou “emprateleiramento” político, os seus quadros
mais relevantes, conceituados e reconhecidos.
Do Estudo de Avaliação
Multidimensional do Envelhecimento Ativo e Saudável realizado por Raul Jorge
Marques, que tem a Coordenação Científica do Grupo de Trabalho Envelhecimento e
Desenvolvimento Local da ANIMAR, permito-me transcrever algumas passagens e
questões elucidativas do problema e da situação.
“Considera-se que não há
desenvolvimento local sem olhar atentamente para as alterações demográficas em
curso e que não o compreender é não acompanhar uma mudança que irá ter cada vez
mais influência no planeamento à escala local e na afetação de recursos humanos
qualificados, em que as pessoas mais velhas, independentemente de estarem ou
não aposentadas, têm de ser forçosamente encaradas como ativos qualificados e
recrutáveis!” “a «articulação envelhecimento – desenvolvimento local» deve
estar suportada na participação efetiva das pessoas mais velhas nas estratégias
e nos projetos que lhes dizem diretamente respeito. Contudo, como bem refere
Papaléo Netto (2006, p. 4)5 , a manutenção da vida saudável de uma pessoa mais
velha, apesar de ser um dever da sociedade, não é politicamente encarada como
um investimento de futuro, a que acresce o facto de se estar perante “um grupo
etário politicamente ainda muito frágil” por ter saído do mercado de trabalho e
ter perdido capacidade reivindicativa, o que dificulta, não a sua afirmação que
já existe por via do peso na demografia, mas a capacidade de intervir nas
políticas que lhes são destinadas. Durante quanto anos mais vai ser assim, com
pessoas cada vez mais qualificadas e exigentes?”
• QUE INICIATIVAS DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL SE PODEM REALIZAR PARA ACOMODAR O
ENVELHECIMENTO SOCIAL E PROMOVER O ENVELHECIMENTO ATIVO/ COLABORATIVO?
• DE QUE FORMA O ENVELHECIMENTO ATIVO/COLABORATIVO PODE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DOS TERRITÓRIOS?
• QUE MODELO UTILIZAR NA CONSTRUÇÃO DE UM PLANO GERONTOLÓGICO LOCAL PARTICIPADO?
O referido estudo apresenta ainda
a proposta de elaboração de uma Estratégia e de uma Política Gerontológica
Nacional e as seguintes sugestões para Planos Gerontológicos Locais
▶ Criar atividades para redução do stress diário, do
pessimismo em relação ao futuro e da
irritabilidade, em que as pessoas
sintam prazer, partindo de um diagnóstico prévio.
▶ Criar atividades para que as
pessoas mais velhas se sintam socialmente mais úteis,
partindo
de um diagnóstico prévio.
▶ Criar atividades para melhorar a
concentração e a tomada de decisão.
▶ Criar estratégias que reduzam o sentimento de isolamento e de inutilidade,
melhorando o
convívio comunitário e a
participação na vida da comunidade.
▶ Criar estratégias de combate à iliteracia
em saúde nos domínios
da nutrição geriátrica,
da
suplementação, da hidratação
adequada e da higiene de sono.
▶ Criar estratégias formativas nos domínios
da sexualidade nas pessoas mais velhas.
▶ Criar estratégias de sensibilização para a
prática da atividade física, que partam de um
levantamento das preferências dos
cidadãos e cidadãs.
▶ Incentivar o envelhecimento nas
habitações, criando localmente um «serviço 24 horas/dia de cuidadores/as
certificados/ as» e um «serviço de ouvidores/as» dedicados/as a conversarem com
as pessoas mais velhas. Sugestões para uma Política Gerontológica Nacional
A estas propostas eu acrescentaria outra: criar uma bolsa local de idosos e aposentados, disponíveis para a participação activa nos projectos de desenvolvimento e participação cidadã.
Jorge Pulido Valente
16/02/2023
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