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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Crónica Cidadania Activa 9 - Aproveitar o potencial de informação, conhecimento e experiência


 
Crónica Cidadania Activa 9

Aproveitar o potencial de informação, conhecimento e experiência

Num país como Portugal, em grave recessão demográfica e preocupante envelhecimento populacional, seria útil, importante e inteligente ter políticas públicas nacionais, regionais e locais que promovessem o aproveitamento do enorme potencial de informação, conhecimento e experiência dos mais velhos, estando eles no activo ou já aposentados, mas ainda com vontade e capacidade para participarem nos processos e projectos de cidadania e desenvolvimento.

No entanto, o que um recente estudo promovido pela Animar veio revelar e evidenciar foi a inexistência dessas políticas públicas e de estratégias, quer a nível nacional quer regional e local, para o envelhecimento activo, interrompendo-se assim, entre outras coisas, a passagem intergerações de saberes fundamentais. Na administração pública nacional, regional e local, esta situação é tão ou mais preocupante por se ter deixado de “fazer escola”, quando organismos com um saber acumulado enorme perdem, por reforma ou “emprateleiramento” político, os seus quadros mais relevantes, conceituados e reconhecidos.

Do Estudo de Avaliação Multidimensional do Envelhecimento Ativo e Saudável realizado por Raul Jorge Marques, que tem a Coordenação Científica do Grupo de Trabalho Envelhecimento e Desenvolvimento Local da ANIMAR, permito-me transcrever algumas passagens e questões elucidativas do problema e da situação.

“Considera-se que não há desenvolvimento local sem olhar atentamente para as alterações demográficas em curso e que não o compreender é não acompanhar uma mudança que irá ter cada vez mais influência no planeamento à escala local e na afetação de recursos humanos qualificados, em que as pessoas mais velhas, independentemente de estarem ou não aposentadas, têm de ser forçosamente encaradas como ativos qualificados e recrutáveis!” “a «articulação envelhecimento – desenvolvimento local» deve estar suportada na participação efetiva das pessoas mais velhas nas estratégias e nos projetos que lhes dizem diretamente respeito. Contudo, como bem refere Papaléo Netto (2006, p. 4)5 , a manutenção da vida saudável de uma pessoa mais velha, apesar de ser um dever da sociedade, não é politicamente encarada como um investimento de futuro, a que acresce o facto de se estar perante “um grupo etário politicamente ainda muito frágil” por ter saído do mercado de trabalho e ter perdido capacidade reivindicativa, o que dificulta, não a sua afirmação que já existe por via do peso na demografia, mas a capacidade de intervir nas políticas que lhes são destinadas. Durante quanto anos mais vai ser assim, com pessoas cada vez mais qualificadas e exigentes?”

• QUE INICIATIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL SE PODEM REALIZAR PARA ACOMODAR O

ENVELHECIMENTO SOCIAL E PROMOVER O ENVELHECIMENTO ATIVO/ COLABORATIVO?

• DE QUE FORMA O ENVELHECIMENTO ATIVO/COLABORATIVO PODE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DOS TERRITÓRIOS?

• QUE MODELO UTILIZAR NA CONSTRUÇÃO DE UM PLANO GERONTOLÓGICO LOCAL PARTICIPADO?

O referido estudo apresenta ainda a proposta de elaboração de uma Estratégia e de uma Política Gerontológica Nacional e as seguintes sugestões para Planos Gerontológicos Locais

▶ Criar atividades para redução do stress diário, do pessimismo em relação ao futuro e da

irritabilidade, em que as pessoas sintam prazer, partindo de um diagnóstico prévio.

▶ Criar atividades para que as pessoas mais velhas se sintam socialmente mais úteis, partindo

de um diagnóstico prévio.

▶ Criar atividades para melhorar a concentração e a tomada de decisão.

▶ Criar estratégias que reduzam o sentimento de isolamento e de inutilidade, melhorando o

convívio comunitário e a participação na vida da comunidade.

▶ Criar estratégias de combate à iliteracia em saúde nos domínios da nutrição geriátrica, da

suplementação, da hidratação adequada e da higiene de sono.

▶ Criar estratégias formativas nos domínios da sexualidade nas pessoas mais velhas.

▶ Criar estratégias de sensibilização para a prática da atividade física, que partam de um

levantamento das preferências dos cidadãos e cidadãs.

▶ Incentivar o envelhecimento nas habitações, criando localmente um «serviço 24 horas/dia de cuidadores/as certificados/ as» e um «serviço de ouvidores/as» dedicados/as a conversarem com as pessoas mais velhas. Sugestões para uma Política Gerontológica Nacional

A estas propostas eu acrescentaria outra: criar uma bolsa local de idosos e aposentados, disponíveis para a participação activa nos projectos de desenvolvimento e participação cidadã.

Jorge Pulido Valente

16/02/2023


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