Habitação: oportunidades e dificuldades
Há muito tempo que a habitação é um problema nacional e local que se foi agravando durante décadas por falta de uma estratégia de médio e longo prazo, mas só agora o governo e os municípios decidiram avançar com políticas públicas coordenadas, de curto prazo, para o resolverem.
Quando tomei
posse como presidente da Câmara Municipal de Mértola em 2001, o concelho debatia-se
com um gravíssimo problema de falta de habitação (o qual ainda fazia aumentar mais
a perda demográfica típica destes territórios do interior rural), sem casas
para arrendar ou comprar e terrenos para construir habitação própria ou
municipal.
Em dois
mandatos, através de uma política pública coordenada, coerente, convergente e
de continuidade, resolvemos o problema: fizemos loteamentos em terrenos
camarários para autoconstrução e para habitação cooperativa, incentivámos os
loteamentos particulares, adquirimos imóveis no centro histórico para
reabilitação e posterior habitação social e arrendamento apoiado, dinamizámos o
mercado social de habitação, criámos subvenções para obras particulares,
incentivos e isenções fiscais e apoios habitacionais para carenciados.
As maiores
dificuldades foram o financiamento e, sobretudo, os constrangimentos legais e burocráticos,
bem como a escassez de resposta das empresas de construção civil.
Lamentavelmente,
ao longo dos últimos 12 anos a continuidade desta política pública local foi interrompida
e, em consequência, o problema da falta de habitação para arrendar ou comprar foi-se
agravando e, hoje, é um dos maiores obstáculos à captação e fixação de população,
sobretudo da população mais jovem.
O pacote de
medidas que o governo aprovou agora para esta área e a elaboração das estratégias
locais de habitação pelos municípios criam oportunidades importantes para a solução
do problema, mas, infelizmente, não resolvem as dificuldades principais acima referidas
e, potencialmente, criam outras, dado que se pretende num prazo muito curto, 5 anos,
resolver mais de 2 décadas de inação e de avolumar de carências.
Para
dificultar mais a execução destas políticas, temos um cenário de aumento da
necessidadee da consequente procura de habitação, até pelo crescimento
económico e vinda de imigrantes, em contraste com a escassez de mão de obra e
de materiais, em simultâneo com a elevação brutal dos custos dos mesmos e das
taxas de juro.
Quanto às
casas devolutas, o governo devia primeiro analisar os motivos pelos quais elas
estão nesta situação, começando por aquelas, e são muitíssimas, que são
património do estado.
Facilmente
concluiria que é preciso fazer por um lado um pesado e demorado trabalho prévio
de reabilitação e por outro uma reforma da legislação e da administração
pública, de modo a criar instrumentos efectivos, eficazes e céleres de
intervenção.
Nesta como noutras áreas, por falta de estratégias e políticas públicas em tempo útil e com continuidade, vamos continuar a correr atrás do prejuízo!
Jorgr Pulido Valente
25/02/23
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