Opinião
Isso é que era de valor…
Sempre se falou sobre pensamentos
e sistemas políticos, os quais regulavam e geriam os povos sobre os quais
dominavam sobre diversas formas. Sistemas monárquicos unipessoais que
governavam a seu belo prazer, normalmente rodeados por um grupo de “nobre
guerreiros” que se reuniam em corte. Este sistema foi progressivamente mudando
conforme os vários movimentos sociais até que os monarcas passaram a ter
poderes muito limitados, como agora acontece.
É verdade que a nova “classe burguesa”, do burgo/cidade, foi
aproveitar múltiplos movimentos populares, ocupando os lugares de governação
até aos nossos dias, muito embora as tipologias ou práticas governativas tenham
mudado muito desde o século XIX, por pressão popular e abertura de algumas
perspectivas de crescimento, nomeadamente através da obrigatoriedade escolar e
abertura do ensino superior.
Até hoje há uma classe, ou melhor um grupo social, que domina a
nossa sociedade e criou um regime já velho de antigo, chamado de democracia
(poder do povo), que os gregos inventaram no século V a.C. Com enormes
diferenças até aos nossos dias, mas numa tentativa de dar a todos os cidadãos
os mesmo direitos e deveres.
A Europa e grande parte do mundo vive numa democracia, afinal,
quer queiramos quer não, o mais moderno, inteligente e melhor sistema político.
A democracia tem qualidades e defeitos, como qualquer sistema, mas creio que
muita gente não reflectiu sobre todas as possibilidades que este sistema
proporciona. Lá vai o tempo em que era suficiente ter liberdade de opinião,
imprensa livre, assim como a sua profissão e religião que cada um entendesse, e
muitas mais liberdades.
A democracia é, deve ser, um sistema político dinâmico e ser
sucessivamente analisado e reflectido sobre os caminhos que leva e, nesse
sentido, quando o movimento Beja Merece + se deslocou a Bruxelas ficou
surpreendido e bem surpreendido quando nos foi transmitido que nós
representávamos as linhas mestras da nova democracia. A movimentação de
cidadãos livres, lutando pelos seus direitos, mesmo contra os poderes
instituídos, dominados pela partidarização das politicas nacionais.
Sentimo-nos correntemente amarrados por uma teia de aranhas de
vozes mansas que moldam as nossas vidas, nos obrigam a comer o que eles querem,
ler o que escrevem, ir pelos caminhos que desenharam e por fim … pedem-nos que
votemos, “os píncaros” da democracia, onde só os partidos têm lugar. Algo vai
mal com esta democracia.
Hoje quase temos medo ou receio de falar, porque o primo ou a
tia são funcionários de qualquer câmara, escriturária de uma empresa, porque
pretendemos ser secretários de estado, etc, etc. Torna-se necessário alterar
este mau estado de coisas, é preciso falar, discutir, expor a verdade,
inteligência e razão ao serviço das pessoas. Na democracia, naquela democracia
que deveria ser dos nossos dias é preciso que os políticos saibam ouvir,
discutir e pôr em acção medidas que promovam o sorriso e bem-estar das pessoas,
do seu povo.
Infelizmente os políticos, muitos deles, nas cidades e vilas do
nosso país, acabam por fazer exactamente o contrário daquilo que deve ser
feito. Alguns deles, se calhar uma grande maioria, já nem ouve os seus
cidadãos, passam pelas ruas de cabeça no ar sem olhar ao redor, não respondem
às cartas e @mails, pedem-se reuniões e descartam as pessoas. O contrário
daquilo que é desejado pelo povo, numa altura que a consciência política é cada
vez maior e a análise crítica mais acutilante e cuidada.
Acho que estes novos democratas de “aldeia” não sabem o que é
democracia. Um político que não sabe ouvir e ler o que lhe chega sinceramente
não é um democrata, é um novo rei medieval mal disfarçado.
O povo acomodou-se e os políticos aproveitaram, mas precisam de
mudar e... nós também!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
Florival
Baiôa, professor
30 de janeiro 2023 - 13:00
In Diário do Alentejo
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