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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Um “bom futebolista” que optou pela canoagem


“O sentimento mais gratificante que posso ter é o orgulho dos meus pais. Nunca me arrependerei das minhas opções, e sei que um dia, quando tiver filhos, eles se orgulharão do pai, tal como os meus pais fazem comigo”, confessou o canoísta internacional Bruno Afonso. O atleta do Clube Náutico de Mértola revelou também: “Estou contente com tudo o que já consegui mas ainda espero conquistar mais felicidade com o que está para vir”.
 Texto e foto Firmino Paixão

Bruno Afonso nasceu em Mértola, à beira do Guadiana. Tem 23 anos de idade e oito de dedicação à canoagem “O meu primeiro contacto com a modalidade foi engraçado, porque nunca tinha sentido nenhum interesse pela canoagem”, explicou.
 Já experimentara vários desportos, contudo, “no verão, os meus amigos iam tomar banho para o rio e eu ficava em casa, a minha mãe não me permitia. Então, encontrei uma solução, vim para a canoagem porque, no final do treino, sabia que daríamos uns mergulhos no rio”. E foi assim durante três anos: no verão remador, no inverno futebolista do Guadiana de Mértola, até ser advertido pelo treinador do Náutico que, por causa daquele vai vem, não o aceitaria mais no clube. “Mas à terceira vim para ficar, foi de vez, construi ambições muito fortes e dediquei-me apenas à canoa, mas eu até era bom futebolista”.
A opção definitiva pela canoagem coincidiu com a chegada a Mértola do treinador húngaro Tamas Homoki, contou Bruno Afonso, assumindo que: “Confiei muito nele, a sua vinda tinha sido uma boa aposta do clube. Sempre pensei que ele me iria potenciar, então, aproveitei bem os seus ensinamentos para me lançar para bons resultados e cá estou”.
Com o rio Guadiana tão perto e com a dinâmica do Clube Náutico, a canoagem é uma opção natural para os jovens locais. Bruno Afonso disse até que “o que me fascina é disfrutar das paisagens. Cada lugar onde remamos tem sempre a sua beleza, a natureza oferece-nos essas maravilhas e nós só queremos fruir o rio. Sentir o barco a deslizar pelas águas é um momento único, um momento de sensações que nos dão tanto prazer que não encontro em nenhum outro desporto, em nenhum outro lugar”.
 Desde sempre que o Náutico de Mértola foi o ancoradouro das suas ambições: “E continua a ser, estudava em Mértola, por isso, era uma opção natural, mas o clube não me apoiou só durante a formação, o clube está sempre presente e apoia-me em tudo o que preciso. Devo muito ao Náutico de Mértola e acredito que no futuro a nossa relação continuará igual”.
 A dedicação foi crescente e o retorno foram os bons resultados e a chamada às seleções: “Foi uma evolução rápida, face à competência do treinador Homoki, interiorizei que só tinha que cumprir as suas orientações e, nesse ano, na primeira prova de aferição para as seleções nacionais entrei logo, daí para a frente só falhei uma época e já lá vão mais de oito anos”.
 Uma carreira feita de regatas em competições nacionais, campeonatos da Europa e do Mundo, conhecendo novos lugares e valorizando-se como atleta: “Quando era júnior pensei que tudo ficaria por ali, nunca imaginei que o melhor estaria para vir, não me passava pela cabeça que ainda participaria em tantas provas internacionais, que conheceria tantos países e tantos atletas formidáveis com quem competi”.
E tem valido a pena porque, além das medalhas que, sendo importantes, não são tudo o que a modalidade lhe tem oferecido, sublinhou: “Tenho memórias muito gratificantes, só de pensar nisso até me arrepio, para além da experiência competitiva fica o convívio, a partilha da amizade, um dos melhores momentos que vivi na canoagem foi em 2016, na Bielorrússia, onde o meu amigo Tiago Tavares foi campeão do mundo. Vê-lo subir ao pódio e ouvir o hino foi algo inesquecível, não era eu que lá estava, mas foi um dos momentos mais emotivos que tive na canoagem”.
 Falta-lhe um título europeu ou mundial, mas haverá tempo para lá chegar? “Treino todos os dias com essa ambição, lutarei sempre para o conseguir, mas também tenho noção de que noutros países as realidades são outras”.

 Bruno Afonso tem o estatuto de alta competição, vive na residência universitária no Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Canoagem, em Montemor-o- -Velho, em cuja pista treina. Estuda em Coimbra, licenciou-se em Engenharia Informática e frequenta o mestrado. Entretanto integra o Projeto Olímpico, com os olhos postos em Tóquio 2020, por isso, deixa um recado aos jovens do seu clube para quem se considera já um exemplo: “Tenham ambição para irem mais além, com muito trabalho e dedicação tudo é possível, basta que acreditemos”.

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