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domingo, 9 de outubro de 2022

O Tempo da Incerteza


Habitamos tempos de incerteza. Há cinquenta anos, os homens tinham talvez um futuro mais sombrio, mas a estabilidade das suas condições de vida – por muito mal que vivessem – permitia-lhes concluir que o futuro não lhes traria grandes surpresas. Hoje, o medo do futuro é uma das principais características das sociedades modernas. E esse receio, moderado ou ansiogénico, deve-se ao facto que o horizonte do possível se abriu tanto, que as nossas contas podem revelar-se especialmente incertas.

Hoje - e pode ser apenas impressão minha - o mundo é marcado principalmente pela nitidez que existe entre os que perdem e os que ganham, entre o remediado e a elite, entre quem determina e quem não lhe resta mais remédio que resignar-se.

Este clima, aliado à pesada carga fiscal, à ambição das instituições financeiras e à pouca regulação por parte do estado, está a extinguir a classe média. E o mais engraçado é que o crescimento económico, obrigatório e visto como o remédio milagroso para todos os males, raramente beneficia os que mais necessitam – os idosos, os desempregados e os trabalhadores de baixos rendimentos.

Todos estes sentimentos vão inevitavelmente moldar o panorama político e social. E vão porque o normal cidadão, armado de uma deceção generalizada que já não consegue materializar, está a chegar ao limite.

Todos sabemos que a insatisfação, quando adquire uma natureza difusa, provoca perplexidade. Irrita-nos viver numa sociedade que nunca conta com a nossa aprovação. Mas o que nos irrita ainda mais é não saber a quem confiar a mudança desta situação.

O perigo, o verdadeiro perigo deste panorama, é que num mundo de incertezas e de esperanças desesperadas, o discurso mais manhoso é sempre recompensado nas urnas.

Júlio Silva

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