Vamos falar de


quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O Novo Mosaico de Mértola

O maior segmento do mosaico encontrado integraria uma das capelas do complexo religioso paleocristão de Mértola. A figuração, a técnica construtiva e o contexto tornam-no único em Portugal.
“Depois do calor do Verão, os deuses favoreceram-nos”, brinca Virgílio Lopes, investigador do Campo Arqueológico de Mértola (CAM). No âmbito dos trabalhos de escavação, conservação e valorização em curso, foi identificado em Julho um mosaico extraordinário, próximo dos dois baptistérios conhecidos desde 2013, na encosta do castelo. “Mértola tem o poder de nos surpreender e de revelar novas facetas”, diz o arqueólogo. O mosaico, com 5 metros por 4, poderá prolongar-se na área contígua ao cemitério da vila. Foi projectado para um espaço interior que a equipa do CAM acredita que poderia ser uma capela integrada num complexo religioso paleocristão, “um mundo que se seguiu ao período romano, mas no qual Mértola manteve relevância cultural e religiosa, mesmo não dispondo de um bispo”.
No século XIX, o arqueólogo Estácio da Veiga identificou na mesma zona o fragmento de uma tartaruga ou cágado e mandou desenhá-lo a aguarela. A peça perdeu-se, mas ficou o registo. “Hoje, estamos convencidos de que Estácio encontrou parte deste mosaico, pois o medalhão com a figura encaixa neste programa”, diz Lopes. “E, por sua vez, este mosaico é ‘irmão’ de outro já encontrado por cima do criptopórtico. Foi produzido pelo mesmo grupo de artistas.” Há paralelos com esta figuração em Menorca e Virgílio Lopes acredita que a inspiração para o mosaico, datado provisoriamente do século VI, vinha do Mediterrâneo Oriental. “É o período para o qual temos mais lápides, muitas das quais escritas em grego”, diz. “Seria porventura essa comunidade a encomendar um programa artístico como este, que reflecte o melhor que então se fazia na bacia do Mediterrâneo.” 
O mosaico já foi alvo dos “primeiros socorros de conservação e restauro” e aguarda uma decisão de como poderá ser mais bem protegido e exposto.

Texto: Gonçalo Pereira Rosa
Fotografias: António Cunha
In National Geographic Portugal

Clique aqui para ler o artigo original na revista OnLine

Sem comentários:

Enviar um comentário

Se quer comentar inscreva-se no Blog

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.