Habitamos tempos de incerteza. Há cinquenta anos, os homens tinham talvez um futuro mais sombrio, mas a estabilidade das suas condições de vida – por muito mal que vivessem – permitia-lhes concluir que o futuro não lhes traria grandes surpresas. Hoje, o medo do futuro é uma das principais características das sociedades modernas. E esse receio, moderado ou ansiolítico, deve-se ao facto que o horizonte do possível se abriu tanto, que as nossas contas podem revelar-se especialmente incertas.
Hoje - e pode ser apenas impressão minha - o mundo é marcado principalmente pela nitidez que existe entre os que perdem e os que ganham, entre o remediado e a elite, entre quem determina e quem não lhe resta mais remédio que obedecer.
Todos estes sentimentos vão inevitavelmente moldar o panorama político e social. E vão porque o normal cidadão, armado de uma deceção generalizada que já não consegue apontar a algo de concreto, está a chegar ao limite.
Todos sabemos que a insatisfação, quando adquire uma natureza difusa, provoca perplexidade. Irrita-nos um status quo que nunca conta com a nossa aprovação. Mas o que nos irrita ainda mais é não saber a quem confiar a mudança desta situação.
O perigo, o verdadeiro perigo deste panorama, é que num mundo de incertezas e de esperanças desesperadas, o discurso mais hábil e engenhoso é sempre recompensado nas urnas.
Júlio Silva
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