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sábado, 13 de fevereiro de 2021

O menino-homem (por Júlio Silva)

Levanto-me bem cedo. Preparo o pequeno-almoço para o meu avô e para a minha avó. Estão ambos doentes e debilitados. Ele tem alzheimer e ela tem insuficiência cardíaca. São bastante idosos. Enquanto comem, deixo o almoço preparado para eles e dou uma arrumadela na casa.

Visto-me. Está na hora de ir para a escola. Vou, mas estou sempre a pensar neles. Durante grande parte da minha vida eles foram o meu único suporte. Eles foram os meus verdadeiros pais. Foram eles que me criaram. Fomos sempre nós os três.

Os meus pais estão separados, vivem longe e têm as suas vidas. Mas eu decidi ficar. Nunca os vou abandonar.
Quando termino as aulas, volto para casa. E quando chego, começa uma nova jornada. Sou eu que cuido deles. Eu assumi essa responsabilidade.
Lá para a noitinha, se possível, estudo um pouco. Sei que não sou um aluno brilhante. Mas sou esforçado. E sou porque sei que a escola é a minha saída para uma vida melhor. Para mim e para eles. Foi este o caminho que eu escolhi.
Esta podia ser uma história de ficção, mas não é. É uma história bem real de um aluno que muito admiro.
A vida nem sempre o tratou bem. E apesar de ser apenas um adolescente, assumiu a responsabilidade de orientar a sua vida e a condição de cuidador.
Apesar dos dias amargos, nunca a sua voz se levanta. Nunca a sua humildade se reduz. Nunca a sua atitude deixou algo a apontar.
Esta é a história de um menino-homem que devia ser lida por muitos meninos e meninas. Esta é a história de um ser humano que sabe o verdadeiro significado de palavras como obstáculo, dificuldade e futuro. Mas que aprendeu, nas curvas da vida, a responder com trabalho, coragem e esperança.
Deixo-te aqui o meu apreço, caro aluno. Não só por tudo o que és. Mas por tudo o que representas.

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