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sábado, 13 de maio de 2017

Ele é uma estrela pop, "ele é o Papa do povo"


Santuário estava lotado para receber Francisco. E até o sol apareceu num dia em que se previa muita chuva. Para os crentes foi uma graça para o bispo de Roma, para os não crentes foi só uma coincidência

As velas acenderam-se às 9 da noite. As velas, os telemóveis e a luz brilhante do terço gigante da obra criada por Joana Vasconcelos iluminaram a segunda entrada do Papa Francisco no Santuário de Fátima. Desta vez, fazendo parte do caminho a pé, saudando de perto muitos peregrinos. Chamam-no pelo nome: "Francisco, Francisco". O Papa conversou com alguns deles, estendeu-lhes a mão e riu-se para as crianças que lhe pediram autógrafos, como se de uma estrela pop se tratasse.

E porque não? Ele é uma estrela pop. "Ele é o Papa do povo, vem ao encontro dos pobres e das pessoas que mais precisam", dizia José, que veio da Nazaré com a mulher, Maria Alzira, ambos com mais de 70 anos e que às 10.00 já estavam sentados junto às grades do Santuário. Uma estrela pop capaz de pôr uma multidão em êxtase, aos gritos, como se viu à tarde, quando chegou ao Santuário pelas 18.15. "Vem peregrino da esperança, vem peregrino da paz", era o cântico da receção, acompanhado por lenços brancos agitados no ar. E que agora, apenas com a sua presença, põe uma multidão em silêncio e convida à introspeção para a bênção das velas. Não há números oficiais mas há a certeza de que ali não cabe mais ninguém. Encontrões. Apertões. Uma hora antes da cerimónia da noite já era impossível circular no Santuário.

Depois da chuva, o sol

Este era o momento por que todos esperavam. Aquele que os fez vir. Que justifica as bolhas nos pés, o corpo enregelado, as noites mal dormidas, os dias de férias metidos em maio sem ser para ir à praia. "Mas com muita alegria", garante Pedro, que veio de Odivelas a pé. A alegria dos peregrinos é a prova mais viva da sua fé. A noite anterior não tinha sido fácil para os que ficaram ao relento no Santuário, nem para os que estavam nas tendas e muito menos para os que ainda vinham a caminho de Fátima. Choveu muito e o vento não deu tréguas. Mas a manhã trouxe o sol e as nuvens foram-se abrindo pela tarde. Sol para o Papa Francisco, dizem os peregrinos. Uma coincidência, dirão os não crentes.

Fim da manhã. No topo do recinto, Tito explica a um grupo de peregrinos vindos do Belém do Pará, no Brasil, tudo sobre o Santuário: onde comprar as velas, onde as devem colocar depois de acesas, qual o melhor local na "esplanada" para assistir às cerimónias. "Circulem um pouco mas estejam aqui antes das 15.00 para assegurarem que têm um bom lugar. Sem dúvida que vai estar lotado mais logo." Tito lidera o grupo de 51 peregrinos, todos com camisolas estampadas com imagens do Papa Francisco e de Nossa Senhora. "Ver este Papa e ainda por cima em Fátima é um sonho que a gente concretiza", diz, um pouco emocionada, Socorro. "Somos todos devotos de Nossa Senhora. A Nossa Senhora é só uma, seja de Fátima, do Socorro ou da Aparecida, é a mãe de Jesus."

Ao longo do dia, os peregrinos não param de chegar. O grupo maior é o dos três mil jovens do grupo "Eu acredito" com as suas blusas azuis turquesa e os cânticos alegres. "Esta é a juventude do Papa Francisco", gritam, anunciando a chegada ao Santuário. Mais silenciosos, concentrados nas orações, os 330 peregrinos de Fernão Ferro são uma mancha cor de laranja no meio da multidão.

O grupo de 56 peregrinos do Burkina Faso também chama a atenção com as suas roupas coloridas. Cantam numa língua estranha mas o padre Gaetan fala inglês e vai metendo conversa com outros peregrinos: "Union in pray", unidos na oração, diz-lhes, distribuindo abraços. Vieram do Burkina Faso de propósito para ver o Papa? Gaetan sorri: "Não, para rezar. Para rezar a Nossa Senhora de Fátima. Nós crescemos na fé e na esperança e acreditamos que através de Nossa Senhora de Fátima encontraremos Jesus Cristo. Essa é a razão pela qual vimos cá." Enquanto se dirige para a Basílica da Santíssima Trindade, Gaetan tem ainda umas palavras de apreço para a humildade de Francisco: "Ele é um bom representante de Deus na terra."

Depois de Francisco, o Benfica

Ao início da tarde começa a tornar-se difícil caminhar no recinto. As ruas também já estão muito cheias. De pé, em bancos, sentados no chão. Ao longo de quase todo o caminho que vai do estádio novo de Fátima até ao Santuário, o caminho que o Papa Francisco fará no "papamóvel", há peregrinos. Amontoam-se junto à rotunda dos Pastorinhos, ocupam as bermas. Cantando, alguns deles. Aplaudindo a chegada dos grupos a pé. A voz de Paula é a que mais se destaca, por causa do altifalante: "Viana a pé saúda os peregrinos da Trofa." Ou de Lisboa. Ou do Prego. Ou de outro sítio qualquer. E o grupo de Viana em peso canta-lhes uma canção para os animar. São 83 com blusas brancas e amarelas com uma imagem de Nossa Senhora. Saíram de Viana do Castelo na sexta-feira, dia 5, e chegaram a Fátima, na quinta-feira - 11.

José António Dias, empresário de 58 anos, não veio em nenhum grupo. É um peregrino sozinho, vindo de Alhandra e traz uma T-shirt branca com letras vermelhas que dizem: "I love Pope Francis". José António não é devoto absoluto de Fátima - "Não sei se a Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos mas sei que este local tem uma energia especial. Alguma coisa aconteceu aqui" - mas acredita que Francisco "é o único líder político que poderá fazer alguma coisa positiva pelo mundo". Talvez até possa fazer alguma coisa pelo Benfica diz, entre risos: "Neste 13 de maio podemos juntar as duas religiões, seria fantástico celebrar o campeonato neste ambiente." Se tudo correr bem, depois da visita do Papa, a rotunda dos Peregrinos voltará a encher-se, mas de adeptos de blusa encarnada. "A GNR diz que só vamos poder ocupar o passeio mas pode ser que não..." diz, esperançosa Carla Anjos, que espera servir muitas imperiais esta noite na Casa do Benfica, junto à rotunda dos Pastorinhos, ou, como lhe chama "a rotunda do Marquês de Fátima".

in
DN

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