Habitamos tempos de incerteza. Há cinquenta anos, os homens tinham talvez um futuro mais sombrio, mas a estabilidade das suas condições de vida – por muito mal que vivessem – permitia-lhes concluir que o futuro não lhes traria grandes surpresas. Hoje, o medo do futuro é uma das principais características das sociedades modernas. E esse receio, moderado ou ansiogénico, deve-se ao facto que o horizonte do possível se abriu tanto, que as nossas contas podem revelar-se especialmente incertas.
Hoje - e pode ser apenas impressão minha - o mundo é
marcado principalmente pela nitidez que existe entre os que perdem e os que
ganham, entre o remediado e a elite, entre quem determina e quem não lhe resta
mais remédio que resignar-se.
Este clima, aliado à pesada carga fiscal, à ambição
das instituições financeiras e à pouca regulação por parte do estado, está a
extinguir a classe média. E o mais engraçado é que o crescimento económico,
obrigatório e visto como o remédio milagroso para todos os males, raramente
beneficia os que mais necessitam – os idosos, os desempregados e os
trabalhadores de baixos rendimentos.
Todos estes sentimentos vão inevitavelmente moldar o
panorama político e social. E vão porque o normal cidadão, armado de uma
deceção generalizada que já não consegue materializar, está a chegar ao limite.
Todos sabemos que a insatisfação, quando adquire uma
natureza difusa, provoca perplexidade. Irrita-nos viver numa sociedade que
nunca conta com a nossa aprovação. Mas o que nos irrita ainda mais é não saber
a quem confiar a mudança desta situação.
O perigo, o verdadeiro perigo deste panorama, é que
num mundo de incertezas e de esperanças desesperadas, o discurso mais manhoso é
sempre recompensado nas urnas.
Júlio Silva
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