Vamos falar de


quinta-feira, 22 de abril de 2021

PORQUE A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI. A política do medo e o medo da política


Nota - Recomendamos a consulta dos links indicados com maiúsculas bold ou sublinhados.

A política do medo e o medo da política. 

Esta frase martela-me na cabeça há já muito tempo. Recentemente, face à situação que vivemos, em termos político-sociais quer a nível internacional, quer nacional e obviamente também a nível local penso que esta reflexão faz cada vez mais sentido. Por isso fiz algumas pesquisas no nosso amigo google e obviamente descobri sem procurar muito vários artigos sobre o assunto. Uns são mais científicos, outros puramente jornalísticos, mas todos reflexões importantes, convido-os a fazerem também esse exercício de pesquisa pois irão encontrar coisas interessantes.

A política do medo é um assunto por demais estudado e refletido nas suas diversas variantes tal como uma das suas consequências, o medo da política.

“O legado do medo que nos deixou a ditadura não abrange apenas o plano político. Aliás, a diferença com o passado é que o medo continua nos corpos e nos espíritos, mas já não se sente. Um aspeto desse legado deixou uma marca profunda num campo específico: no saber, na hierarquia do poder-saber que Salazar promoveu, cultivou e utilizou em proveito direto do poder autocrático que instaurou. O efeito desse medo hierárquico faz-se ainda hoje sentir.” (José Gil, in Portugal, Hoje - o medo de existir)

“... o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico - que só nasce quando o interesse da comunidade prevalece sobre o dos grupos e das pessoas privadas.” (José Gil, ibidem)

 A política do medo está, infelizmente, muito presente na nossa sociedade, com as óbvias consequências espelhadas no medo da política. Ao nível local e regional essa realidade é transversal nas organizações políticas sociais e autárquicas, existindo nessas realidades uma “organização” sobejamente conhecida e estudada, composta hierarquicamente por várias figuras que, com pequenas variantes, terminologias e características dos seus protagonistas, se enquadram em:

O Pequeno Ditador ou Ditadorzeco

O(s) CaciquesManda Chuvas ou Galopins

Os Chicos espertos ou Carreiristas 

Os Cães de fila ou Homens de mão

Os Paraquedistas integrados 

Os Paraquedistas vampiros (clique AQUI)

Tentando explicar cada um deles:

Começamos pelo primeiro e mais importante na hierarquia: o Pequeno Ditador ou Ditadorzeco. Normalmente um indivíduo com poucos princípios éticos, medianamente inteligente, formação medíocre que, por sorte, enquadramento político ou herança, atinge um lugar de destaque e cujo poder o transforma num pequeno tirano. Não convém contraria-lo, contradize-lo e muito menos dizer-lhe que não concordas com ele pois a partir sesse momento, passas de amigo ou correligionário a inimigo e alvo a abater. Quem “mas faz paga-mas”. E a partir daí tens uma cruz á porta. Seca tudo á tua volta. À sua volta estão normalmente os seus colaboradores diretos que como sabem de que massa o chefe é feito obviamente não se atrevem a contradizê-lo ou a ter ideias que o confrontem.

Os caciques, Manda Chuvas ou Galopins

O cacique é uma espécie de gruta do Ali Bá Bá. Nem sempre tem um séquito de quarenta ladrões, porque isso é muita gente para gerir, mas tem meia dúzia de galopins, todos venenosos, que cumprem mais ou menos bem as ordens que lhes são dadas e que mantém acesa a fogueira do chefe. Influencia diretamente o Ditadorzeco, pois tem acesso direto a ele sendo por vezes ele próprio o verdadeiro ditador que manobra na sombra porque não conseguiu ele próprio ascender a ditador. Influência a torto e a direito o eleitorado, lembrando sempre os favores que fez , que prometeu fazer, que promete fará e cobra a todos por tudo o que fez ou mesmo por aquilo que os outros pensam que ele eventualmente influenciou ou influenciará. Empregos, apoios, favores por vezes os mais mesquinhos.

 Sérgio Godinho contou-nos em 1979 a estória do CASIMIRO. (Clique AQUI)

Vejamos agora os Chicos Espertos ou Carreiristas. Espécimen muito perigosa, que ataca acima e abaixo na cadeia alimentar, faz de tudo para subir na hierarquia, mente, inventa, atropela... para atingir os seus objetivos. Normalmente com muito pouco conteúdo verdadeiro mas com extensíssimos curriculae com referencias a cursos muitas vezes inacabados, formações etéreas, cargos irrelevantes, referencias mirabolantes a atividades fantasiosas. Mente com mestria, usa muitas palavras caras, por vezes em inglês, insistentemente repetidas, tais como coordenador, consultor, gestor supervisor... Cria uma aura de inteligência, influencia e conhecimento que normalmente quando escrutinados não tem qualquer sustentabilidade nem consistência. Tem origem muitas vezes nas juventudes partidárias e utilizam estratégias plasmadas de outras que com os mesmos estratagemas já atingiram muitas vezes patamares superiores. É preciso ter cuidado com eles.

 Os Cães de fila ou Homens de mão

São uma espécie importante na cadeia. Muito ferozes e dispostos a tudo para agradar ao dono. Indivíduos muito perigosos pois não olham a meios para atingir os fins que, muitas vezes, nem sequer são os seus. Normalmente são recrutados de entre elementos da população local a quem são dados alguns incentivos (poucos… para manter o interesse) e que ladram e mordem sempre que necessário. Se cumprirem bem com as suas tarefas podem aspirar a ser promovidos pois a ambição é uma das suas principais características.

Olhemos agora com atenção para aquela elite da força aérea e que são os paraquedistas.

Todos, de uma maneira ou de outra, somos um pouco paraquedistas, de resto esta não é mais do que uma herança que nos ficou do tempo dos descobrimentos. Este aventureirismo que nos está colado à pele, faz-nos ter um olhar enternecido por quem nos chega - traz sempre qualquer coisa de bom: sabe coisas que ainda não tínhamos compreendido, viveu em sítios que conhecemos mal ou nem sequer conhecemos e temos sempre qualquer coisa a aprender com eles. Mas, lembram-se da história da NESPERA? (Clique AQUI)

Pois algumas vezes somos autênticas nêsperas! Ficamos quietinhos e caladinhos à espera do que acontece e zás! Somos comidos. É que há uma espécie destes paraquedistas que caem do céu e, minando o terreno à sua volta, instalam-se como se isto fosse tudo deles. Mértola é, na sua história, de várias e sucessivas ocupações, uma vítima destes paraquedistas, que fazem e desfazem, sem nunca perguntar o que querem estes que cá vivem. Faz um pouco parte da natureza humana: se o ser humano não fosse individualista e não pensasse que há uns mais iguais do que outros, talvez que o comunismo, na sua essência e utopia, tivesse tido sucesso. 

A literatura portuguesa deixou-nos alguns episódios que, surpreendentemente, se repetem. Reparem como Júlio Dinis em “A Morgadinha dos Canaviais”, assinala a movimentação que um processo eleitoral provoca, numa pequena aldeia do norte do país: Pag 440 (Clique AQUI)Pag 441 (Clique AQUI) , Pag 442 (Clique AQUI), Pag 443 (Clique AQUI), Pag 444 (clique AQUI)  e por aí fora.

Quão divertido é reconhecermos um Conselheiro, ou um sr. João das Perdizes, ou um Seabra o brasileiro, ou um mestre Bento Pertunhas, ou um Tapadas, naqueles que hoje detêm o poder, aqui mesmo, ao nosso lado. 

O divertimento desaparece quando nos apercebemos bem que já não estamos no séc. XIX, mas no século XXI. Que deu jeito arrumar no fundo de uma qualquer gaveta tudo o que aprendemos com abril e patinhamos ainda no charco da sobranceria, de umbiguismos e do espertismo saloio, emoldurado num glorioso “nós é que sabemos!”

Ainda no séc. XIX, António José de Almeida referia num artigo da revista Alma Nacional, que “o caciquismo não é um acessório do regime. É o próprio regime”, e continuamos a encontrá-lo em policromias ideológicas e sempre que as cadeiras têm já a forma de quem nelas se senta. 

 Agora, das duas uma: ou ficamos deitadinhos como nêsperas, ou vamos expurgar os medos que há em nós e dizemos o que pensamos; não ficamos quietos e, pensando com muitos outros, apontamos caminhos, discutimos, fazemos, partilhamos e conversamos, porque queremos e sabemos que somos capazes.

Porque A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI (Clique AQUI) vamos provar que somos capazes se desmontar esta máquina que nos sufoca, que nos inibe de respirar e de dizer basta.

Basta de medo.

Basta de política do medo.

Basta de medo da política.

Carlos Viegas / Laurinda Branco  / 24/04/2021

Esta é a nossa forma de celebrar ABRIL (Clique AQUI)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Se quer comentar inscreva-se no Blog

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.