A
política do medo e o medo da política.
Esta
frase martela-me na cabeça há já muito tempo. Recentemente, face à situação que
vivemos, em termos político-sociais quer a nível internacional, quer nacional e
obviamente também a nível local penso que esta reflexão faz cada vez mais
sentido. Por isso fiz algumas pesquisas no nosso amigo google e obviamente
descobri sem procurar muito vários artigos sobre o assunto. Uns são mais
científicos, outros puramente jornalísticos, mas todos reflexões importantes,
convido-os a fazerem também esse exercício de pesquisa pois irão encontrar
coisas interessantes.
A política do medo é um assunto por demais
estudado e refletido nas suas diversas variantes tal como uma das suas
consequências, o medo da política.
“O legado do medo que nos deixou a ditadura não
abrange apenas o plano político. Aliás, a diferença com o passado é que o medo
continua nos corpos e nos espíritos, mas já não se sente. Um aspeto desse
legado deixou uma marca profunda num campo específico: no saber, na hierarquia
do poder-saber que Salazar promoveu, cultivou e utilizou em proveito direto do
poder autocrático que instaurou. O efeito desse medo hierárquico faz-se ainda
hoje sentir.” (José Gil, in Portugal, Hoje - o medo de existir)
A política do
medo está, infelizmente, muito presente na nossa sociedade, com as óbvias
consequências espelhadas no medo da política. Ao nível local e regional essa
realidade é transversal nas organizações políticas sociais e autárquicas,
existindo nessas realidades uma “organização” sobejamente conhecida e estudada,
composta hierarquicamente por várias figuras que, com pequenas variantes,
terminologias e características dos seus protagonistas, se enquadram em:
O Pequeno Ditador ou Ditadorzeco
O(s) Caciques, Manda Chuvas ou Galopins
Os
Chicos espertos ou Carreiristas
Os
Cães de fila ou Homens de mão
Os
Paraquedistas integrados
Os
Paraquedistas vampiros (clique AQUI)
Tentando explicar cada um deles:
Começamos pelo primeiro
e mais importante na hierarquia: o Pequeno Ditador ou Ditadorzeco. Normalmente
um indivíduo com poucos princípios éticos, medianamente inteligente, formação
medíocre que, por sorte, enquadramento político ou herança, atinge um lugar de
destaque e cujo poder o transforma num pequeno tirano. Não convém
contraria-lo, contradize-lo e muito menos dizer-lhe que não concordas com ele
pois a partir sesse momento, passas de amigo ou correligionário a inimigo e
alvo a abater. Quem “mas faz paga-mas”. E a partir daí tens uma cruz á porta.
Seca tudo á tua volta. À sua volta estão normalmente os seus colaboradores
diretos que como sabem de que massa o chefe é feito obviamente não se atrevem a
contradizê-lo ou a ter ideias que o confrontem.
Os caciques, Manda Chuvas ou Galopins
O cacique é uma espécie
de gruta do Ali Bá Bá. Nem sempre tem um séquito de quarenta ladrões, porque
isso é muita gente para gerir, mas tem meia dúzia de galopins, todos venenosos,
que cumprem mais ou menos bem as ordens que lhes são dadas e que mantém acesa a
fogueira do chefe. Influencia diretamente o Ditadorzeco, pois tem acesso direto
a ele sendo por vezes ele próprio o verdadeiro ditador que manobra na sombra
porque não conseguiu ele próprio ascender a ditador. Influência a torto e
a direito o eleitorado, lembrando sempre os favores que fez , que prometeu
fazer, que promete fará e cobra a todos por tudo o que fez ou mesmo por aquilo
que os outros pensam que ele eventualmente influenciou ou influenciará.
Empregos, apoios, favores por vezes os mais mesquinhos.
Sérgio Godinho contou-nos em 1979 a estória do CASIMIRO. (Clique AQUI)
Vejamos agora os Chicos Espertos ou
Carreiristas. Espécimen muito perigosa, que ataca acima e abaixo na cadeia
alimentar, faz de tudo para subir na hierarquia, mente, inventa, atropela...
para atingir os seus objetivos. Normalmente com muito pouco conteúdo verdadeiro
mas com extensíssimos curriculae com referencias a cursos muitas vezes
inacabados, formações etéreas, cargos irrelevantes, referencias mirabolantes a
atividades fantasiosas. Mente com mestria, usa muitas palavras caras, por vezes
em inglês, insistentemente repetidas, tais como coordenador, consultor, gestor
supervisor... Cria uma aura de inteligência, influencia e conhecimento que
normalmente quando escrutinados não tem qualquer sustentabilidade nem
consistência. Tem origem muitas vezes nas juventudes partidárias e utilizam
estratégias plasmadas de outras que com os mesmos estratagemas já atingiram
muitas vezes patamares superiores. É preciso ter cuidado com eles.
Os Cães de fila ou Homens de mão
Olhemos agora com atenção para aquela elite da
força aérea e que são os paraquedistas.
Todos, de uma maneira
ou de outra, somos um pouco paraquedistas, de resto esta não é mais do que uma
herança que nos ficou do tempo dos descobrimentos. Este aventureirismo que nos
está colado à pele, faz-nos ter um olhar enternecido por quem nos chega - traz
sempre qualquer coisa de bom: sabe coisas que ainda não tínhamos compreendido,
viveu em sítios que conhecemos mal ou nem sequer conhecemos e temos sempre
qualquer coisa a aprender com eles. Mas, lembram-se da história da NESPERA? (Clique AQUI)
Pois algumas vezes somos autênticas nêsperas!
Ficamos quietinhos e caladinhos à espera do que acontece e zás! Somos comidos.
É que há uma espécie destes paraquedistas que caem do céu e, minando o terreno à sua volta,
instalam-se como se isto fosse tudo deles. Mértola é, na sua história, de
várias e sucessivas ocupações, uma vítima destes paraquedistas, que fazem e
desfazem, sem nunca perguntar o que querem estes que cá vivem. Faz um pouco
parte da natureza humana: se o ser humano não fosse individualista e não
pensasse que há uns mais iguais do que outros, talvez que o comunismo, na sua
essência e utopia, tivesse tido sucesso.
A literatura portuguesa
deixou-nos alguns episódios que, surpreendentemente, se repetem. Reparem como
Júlio Dinis em “A Morgadinha dos Canaviais”, assinala a movimentação que um
processo eleitoral provoca, numa pequena aldeia do norte do país: Pag 440 (Clique AQUI), Pag 441 (Clique AQUI) , Pag 442 (Clique AQUI), Pag 443 (Clique AQUI), Pag 444 (clique AQUI) e por aí fora.
Quão divertido é reconhecermos um Conselheiro,
ou um sr. João das Perdizes, ou um Seabra o brasileiro, ou um mestre Bento
Pertunhas, ou um Tapadas, naqueles que hoje detêm o poder, aqui mesmo, ao nosso
lado.
Porque A
LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI (Clique AQUI) vamos provar que somos capazes se
desmontar esta máquina que nos sufoca, que nos inibe de respirar e de dizer
basta.
Basta de medo.
Basta de política do
medo.
Basta de medo da política.
Carlos Viegas / Laurinda Branco / 24/04/2021
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