Vamos falar de


domingo, 7 de fevereiro de 2021

Mértola “(... ) lugar pequeno, conservador, cristalizado, opaco, refém de maledicências, caciquismos e provincialismos bacocos (...)” ??

 


Cara Rosinda Pimenta, Vereadora da Câmara Municipal de Mértola.

Folheei com verdadeira admiração mais um número da Agenda Cultural de Mértola, publicação que sigo sempre com interesse. Mais um exemplo da excelente qualidade gráfica da equipa que o município dispõe e à qual dou os meus parabéns pela excelência do seu trabalho. Esta já não é a incipiente agenda cultural de que há muitos anos fui um dos percursores; a mesma é, atualmente, um exercício de qualidade,  recheada de nomes sonantes da cultura, fervilhando de novidades, e de projetos grandisonantes à escala de um “local de dimensão grande” tal como apregoa a vereadora. Uma agenda cultural cimentada na “ambição de, aqui, criar uma nova centralidade, assente nos propósitos da sustentabilidade, do conhecimento e da cultura” também referida no artigo da vereadora, objectivos com os quais até poderei concordar

Não vou criticar nem pôr em causa o conteúdo da agenda e os propósitos que anuncia, apesar do momento que atravessamos não me parecer o mais indicado para aí investir tão significativos meios financeiros quando o “lugar pequeno”, das pequenas associações locais, clubes desportivos e associações sociais definham e quando o mertolense, aqui classificado como “conservador, cristalizado, opaco, refém de maledicências, caciquismos e provincialismos bacocos” se defronta com tão graves problemas, até de sobrevivência

Cara Vereadora Rosinda Pimenta, lamento discordar e não acreditar naquilo que escreve. Palavras vanguardistas, apesar de baseadas em Miguel Torga - um nome maior da cultura portuguesa, não chegam para me convencer a mim e a muitos mertolenses da adequação e oportunidade das suas ideias, intenções e da justeza das suas interpretações e afirmações. Prefiro chamar os bois pelos nomes e afirmar que duvido, pela prática contrária a que nos habituou, quando afirma querer que Mértola seja “Um lugar de questionamento, reflexão, ensaio, investigação, produção e transferência de conhecimento, criatividade e inovação. Este lugar assim, faz-se de gente de cá e de fora, porque os de cá são poucos e dos poucos, ainda há muitos que persistem na outra ideia de lugar pequeno”. O seu projeto faz-se essencialmente de gente de fora, de amigos e de uma teia de interesses, essa sim opaca, cacique, bacoca e provinciana, quase de seita. O seu projeto é essencialmente colonizador, preenche interesses de quem nos quer utilizar e aos meios de que através de nós alcançam, para experimentalismos duvidosos descritos e classificados por palavras chave que tão bem sabe(m) utilizar.

Um lugar como apregoa, faz-se sim de gente de cá e de gente de fora, gente que saiba aprender, respeitar, integrar, conviver e trazer mais valias e não com gente de fora que nos olha de lado ou por cima do ombro, com sobranceria, como alvos a abater ou como peças de caça embalsamadas que servem para mostrar quão beneméritos são e como se sacrificaram em vir para o “cus de judas” sofrer para nos mostrar o que é civilização, inovação e modernidade.

Cara Rosinda Pimenta, o que escreveu é desajustado, desadequado, inoportuno e até ofensivo e preocupa-me, enquanto munícipe, que a vereadora da cultura defenda estas ideias e proponha esta estratégia e este pro
grama. “Quem não se sente não é filho de boa gente” e aquilo que aqui expresso é também a opinião partilhada por muitos outros (bacocos) filhos de Mértola.

Já agora e como gosta de literatura lembro-lhe uma obra de referencia de
George Orwel , O Triunfo dos Porcos,  “todos os animais são iguais mas há uns que são mais iguais do que outros”.

Carlos Viegas


Sem comentários:

Enviar um comentário

Se quer comentar inscreva-se no Blog

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.