Cara Rosinda
Pimenta, Vereadora da Câmara Municipal de Mértola.
Folheei com verdadeira admiração mais um número da Agenda Cultural de Mértola, publicação que sigo sempre com interesse. Mais um
exemplo da excelente qualidade gráfica da equipa que o município dispõe e à
qual dou os meus parabéns pela excelência do seu trabalho. Esta já não é a
incipiente agenda cultural de que há muitos anos fui um dos percursores; a
mesma é, atualmente, um exercício de qualidade,
recheada de nomes sonantes da cultura, fervilhando de novidades, e de
projetos grandisonantes à escala de um “local de dimensão grande”
tal como apregoa a vereadora. Uma agenda cultural cimentada na “ambição
de, aqui, criar uma nova centralidade, assente nos propósitos da
sustentabilidade, do conhecimento e da cultura” também referida no
artigo da vereadora, objectivos com os quais até poderei concordar
Não vou criticar nem pôr em causa o conteúdo da agenda
e os propósitos que anuncia, apesar do momento que atravessamos não me parecer
o mais indicado para aí investir tão significativos meios financeiros quando o “lugar
pequeno”, das pequenas associações locais, clubes desportivos e
associações sociais definham e quando o mertolense, aqui classificado como “conservador,
cristalizado, opaco, refém de maledicências, caciquismos e provincialismos
bacocos” se defronta com tão graves problemas, até de sobrevivência
Cara Vereadora Rosinda Pimenta, lamento discordar e
não acreditar naquilo que escreve. Palavras vanguardistas, apesar de baseadas
em Miguel Torga - um nome maior da cultura portuguesa, não chegam para me
convencer a mim e a muitos mertolenses da adequação e oportunidade das suas
ideias, intenções e da justeza das suas interpretações e afirmações. Prefiro
chamar os bois pelos nomes e afirmar que duvido, pela prática contrária a que
nos habituou, quando afirma querer que Mértola seja “Um lugar de
questionamento, reflexão, ensaio, investigação, produção e transferência de
conhecimento, criatividade e inovação. Este lugar assim, faz-se de gente de cá
e de fora, porque os de cá são poucos e dos poucos, ainda há muitos que
persistem na outra ideia de lugar pequeno”. O seu projeto faz-se
essencialmente de gente de fora, de amigos e de uma teia de interesses, essa
sim opaca, cacique, bacoca e provinciana, quase de seita. O seu projeto é
essencialmente colonizador, preenche interesses de quem nos quer utilizar e aos
meios de que através de nós alcançam, para experimentalismos duvidosos
descritos e classificados por palavras chave que tão bem sabe(m) utilizar.
Um lugar como apregoa, faz-se sim de gente de cá e de
gente de fora, gente que saiba aprender, respeitar, integrar, conviver e trazer
mais valias e não com gente de fora que nos olha de lado ou por cima do ombro,
com sobranceria, como alvos a abater ou como peças de caça embalsamadas que
servem para mostrar quão beneméritos são e como se sacrificaram em vir para o
“cus de judas” sofrer para nos mostrar o que é civilização, inovação e
modernidade.
Cara Rosinda Pimenta, o
que escreveu é desajustado, desadequado, inoportuno e até ofensivo e
preocupa-me, enquanto munícipe, que a vereadora da cultura defenda estas ideias
e proponha esta estratégia e este pro
grama. “Quem não se sente não é filho de
boa gente” e aquilo que aqui expresso é também a opinião partilhada por muitos
outros (bacocos) filhos de Mértola.
Já agora e como gosta de
literatura lembro-lhe uma obra de referencia de
George
Orwel , O Triunfo dos Porcos, “todos os
animais são iguais mas há uns que são mais iguais do que outros”.
Carlos Viegas
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